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Tópico: As "eleições"

Visão do Encadeamento

  1. #1
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    As "eleições"

    Boas pessoal!

    Agora mesmo neste preciso momento em que em todo o país estão a abrir as urnas que atraem tantos palhaços otários como uma colmeia atrai um urso, vou vestir o traje para logo mais ir protagonizar a minha parte da palhaçada e, antes, com o vosso consentimento, deixo aqui o meu descargo de consciência:

    Não há voto útil. Todo o voto é inútil

    Assim será, até ao dia em que umas eleições sejam decididas por 1 voto. Em teoria, é possível. Na prática, nem por isso. Mas mesmo que acontecesse, e após eventuais recontagens que só serviriam para baralhar mais as contas (certamente que na recontagem ganhariam outros ou já não existiria uma margem de apenas 1 voto), chegar-se-ia à conclusão de que a única solução que permitiria evitar o total caos politico e social, sería convocar novas eleições para uma data o mais próxima possível.

    Até porque mesmo que não se convocassem novas eleições, o país acabaría inevitávelmente por cair num fosso de instabilidade política que obrigaria a novas eleições a muito curto prazo.

    Logo, o voto de 1 pessoa, é e sempre será um voto inútil.

    Então, onde está a utilidade do voto? Está no voto em massa e não no voto individual.

    O voto individual representa, por excelência, a decisão democrática de cada votante e depende apenas e tão somente da decisão de 1 indivíduo. Este voto, fatalmente, é e sempre será, inútil.

    O voto em massa, que é como quem diz a título de exemplo, a decisão de 10 mil ou 100 mil eleitores em votar num partido no qual num passado pouco distante não tinham ainda decidido votar, esse sim, é o voto útil. Pois tem o poder de definir vencedores e derrotados. Só o voto em massa é útil.

    E quem tem o poder para influenciar este dito voto em massa? A comunicação social e só a comunicação social.

    Quem tem o poder de influenciar a comunicação social? Será o Portugal à Frente? Será o PS? Nem uns, nem outros. Quem consegue ter tal poder é precisamente quem manda no país e, por arrasto, nos partidos políticos. Gente que, efectivamente não podemos negar, terá certamente a sua preferência entre PAF e PS, mas, mesmo preferindo um dos dois, o que realmente prefere acima de tudo é a dita "estabilidade governativa", que só uma maioria absoluta pode permitir.

    Ou seja, ainda que haja uma preferência na vitória do PS (apenas para exemplificar), mais vale uma maioria absoluta do PAF. Ou o inverso, ainda que haja uma preferência na vitória do PAF, mais vale uma maioria absoluta do PS. Porém, maioria absoluta do PS é evidentemente impossível nestas eleições em função dos resultados que se adivinham para CDU e BE.


    Dito isto, dentro de 12 horas, chegaremos a 1 de 2 situações:

    - Ou ganha o PAF com maioria absoluta;
    - Ou ganha o PAF sem maioria absoluta e temos eleições dentro de 3-12 meses para que, finalmente, ganhem com a dita maioria absoluta.


    Qualquer destas duas únicas possíveis situações vai ao encontro dos desejos de quem detém o poder. Tudo controlado, como sempre.

    Lembro-me, por exemplo, de um caso óbvio em que as forças que estão por detrás dos partidos agiram em conformidade com a obtenção de uma maioria absoluta. Foi há pouco tempo, em 2005, quando Sócrates conseguiu uma maioria absoluta. Ora, que o Sócrates ia ganhar essas eleições, já todos sabiam. Então, já que o PS vai ganhar, ao menos que ganhe com maioria absoluta. E o que fizeram para que tal acontecesse? Colocaram Pedro Santana Lopes como candidato do PSD. Alguém no seu perfeito juízo considera que, em 2005, se o PSD quisesse (ao menos tentar) evitar uma maioria absoluta do PS, não tinha ninguém capaz de cativar mais votos que Pedro Santana Lopes?

    Chegou-se ao ponto (ridículo) de colocarem um pouco por todo o país cartazes de Santana Lopes em que se dizia: "Contra ventos e tempestades a favor de Portugal" (sim, sem vírgula). Passando a mensagem (subliminar ou nem por isso) de que qualquer vento ou tempestade que viesse a surgir a favor do nosso país, Santana Lopes estaría contra ela.

    Obviamente não foi muito dificil a Sócrates conseguir maioria absoluta. Nem a Sócrates, nem a qualquer outro que lá tivesse estado nessas eleições como candidato do PS. Foi uma maioria absoluta entregue de bandeja, em claro benefício dos mesmos de sempre.

    Hoje não será assim tão fácil, tal como não o foi em 2009 (ano em que Sócrates ganhou sem maioria absoluta). Mas a vontade de quem manda no país é a de uma maioria absoluta. E quando há cerca de 10 dias atrás se chegou à conclusão de que o PS nunca chegaría à maioria absoluta, notou-se clara e descaradamente na comunicação social, uma insinuação forçada de que o PAF já ganhou as eleições. Desde então, todos os dias, em todos os canais de TV, os telejornais tendem a começar com a campanha do PAF e tendem a dar-lhe mais tempo de antena. Assim o é também nos jornais e sites informativos.

    Se há 10 dias atrás tivessem percebido que o PS com um pequeno forcing poderia chegar à maioria absoluta, já teríamos desde então a clara noção de que ganharia o PS, pois a comunicação social conseguiria fazer parecer que o PS estava na dianteira.

    E porquê há 10 dias atrás e não há 1 ou 2 meses atrás? Porque há que manter no ar a ideia de que o voto útil existe e que qualquer voto que não seja no PS ou no PAF é um voto inútil. Esse é o 1º interesse de quem manda no país. Pelo que dar a entender que o PAF vai ganhar as eleições com 1 ou 2 meses de antecedência é perigoso no sentido em que o voto nas 2 grandes forças politicas perde utilidade ("já está decidido, por isso vou votar em consciência naqueles em quem realmente acredito e não na ilusão do voto útil").

    Por isso é preciso fazê-lo apenas 10 dias antes e ir com muito cuidado. Deixar claro que um dos 2 partidos vai ganhar mas não o dizer directamente, dando a entender que todos os cenários estão em aberto mas que "se queres estar do lado dos vencedores, é nestes que tens que votar".

    Agora, seja há 10 dias ou seja há 2 meses atrás, o voto de cada um de nós, de forma isolada, é inútil. Pensar-se o contrário é como acreditar que se eu for hoje à praia e trouxer 10kg de areia, dentro de 1 ano quando lá voltar a praia já não existe. É uma ilusão dentro de uma ilusão. Quem tem o poder de decidir o voto de milhares de pessoas, tem o poder de intervir de forma impactante numas eleições. Quem tem o poder de decidir apenas o seu próprio voto, apenas pode escolher entre viver numa ilusão ou aceitar as coisas como elas são e votar em consciência.

    Em seguida, a maior desilusão é quando se percebe que nem todos os votos em consciência são permitidos pelo sistema eleitoral que nos é imposto. Se 2 milhões de eleitores, em consciência, não quiserem ir votar, não causam qualquer impacto no resultado das eleições. Se, em consciência, decidirem votar em branco, não causam qualquer impacto no resultado das eleições. Até ao dia (que provavelmente nunca chegará, como é óbvio) em que se decida colocar um quadradinho no boletim de voto para quem decide votar mas não atribuir o seu voto a nenhum dos candidatos.

    Tendo em conta a realidade irrefutável daquilo que se pode ler no anterior parágrafo, o que é então o voto em consciência? É o famoso voto no "mal menor". E se todos os eleitores fossem imunes à ilusão do voto útil e votassem em consciência (votar no mal menor), as forças que ao longo do tempo têm detido o poder, ver-se-iam exacerbadamente ameaçadas.


    Logo, interessa manter a todo o custo que:

    1 - A ilusão do voto útil se mantenha bem viva na sociedade por muito e muito tempo;
    2 - A abstenção seja criticável socialmente e que o abstencionista tenha muito claro que a sua decisão, mesmo que seja igual à de 50% dos portugueses e considerada em conjunto com eles, não é útil;
    3 - O voto em branco, não sendo criticável socialmente (e apesar de eventualmente servir para enviar uma mensagem), seja distribuido por todos os candidatos na proporção do resultado obtido pelos mesmos nas respectivas eleições.


    O que acontece então ao cidadão que, democráticamente e no exercicio dos seus direitos, deseje em consciência que se coloque um ponto final nesta realidade que força o eleitor a demonstrar simpatia em alguém através do seu voto? A quem não concordando com "isto" se veja forçado a continuar a contribuir para "isto"?

    O que acontece a quem deseja o fim desta democracia que só o é no dia das eleições e que mesmo nesse dia o obriga (forçosamente) a optar por uma ideologia na qual pode até não acreditar, nem defender?

    Sentir-se-á ostracizado? Descriminado? Intelectualmente violado?

    Enquanto não existir um quadradinho no boletim de voto para quem deseja e decide votar em branco (sim, isto faz tremer quem detém e está agarrado o poder) ou enquanto não existir um quadradinho no boletim de voto que diga algo do género "Não acredito neste sistema eleitoral, nem nesta democracia e entendo que devemos buscar alternativas", teremos sempre um conjunto de poderosos a tomar decisões por nós, em seu próprio favor e muito raramente em favor do país ou de todos nós.


    Por tudo isto, hoje, nestas eleições:

    - Não me vou abster;
    - Não vou votar em branco;
    - Não vou cair na ilusão do voto útil por respeito à minha própria sanidade mental;
    - Não vou votar em nenhum partido que tenha em teoria hipóteses de eleger 1 deputado que seja na região onde voto;


    Conclusão: vou votar conscientemente inutilmente para evitar a reprovação social do abstencionismo, conscientemente inutilmente para evitar a injustiça democratizada do voto em branco, conscientemente inutilmente para não cair na ilusão de que o meu voto conta, e conscientemente inutilmente num partido qualquer que nem na teoria, nem na prática, nem num mundo de fantasia tenha qualquer hipótese de eleger um deputado através do meu voto.


    Vou, portanto, votar seguro. Hehe, não nesse seguro que poderia hoje ser eleito como primeiro ministro não fossem as vergonhosas eleições internas no PS que o colocaram, sabiamente e convenientemente, fora de jogo. Eleições essas abertas ao voto até de cidadãos de outras cores partidárias. Vou votar seguro, para não votar na histeria colectiva da ilusão do voto útil que nos vai levar inevitavelmente a mais 4 anos iguais aos anteriores e iguais aos anteriores a esses e por aí fora.

    Se o labirinto não tem saída e sabemos que não tem saída, não a procuremos, chega de insistir. O único voto seguro é o voto de rendição, em que se vota conscientemente inutilmente. Pois se eles nos são uma cambada de inúteis, intocáveis e inimputáveis, e a maioria de nós está consciente disso, só a rendição nos poderá dar segurança. Ou, no mínimo, consciência tranquila.

    Se existem estudos que demonstraram que cerca de 80% dos portugueses não acreditam em politicos (considerando-os falsos e mentirosos), então o único caminho a seguir é exigir que o labirinto, um dia, tenha uma saída. E não é nem na abstenção, nem no voto em branco, nem na ilusão do voto útil que algum dia poderemos sonhar em ter uma saída no labirinto.

    Para terminar apenas uma última nota:

    Quando no inicio do texto refiro que "E quem tem o poder para influenciar este dito voto em massa? A comunicação social e só a comunicação social."

    Compete-me acrescentar que, de certa forma, não só a comunicação social tem esse poder. Não influenciando o sentido de voto mas sim a diferença entre a abstenção e a não abstenção, está o tempo. Sim, isso mesmo, a meteorologia. Um dia de chuva, como o de hoje, tende (como é óbvio e irrefutável) a aumentar a abstenção. E qual é a abstenção que aumenta, estando a chover? É a de quem se tem que deslocar a locais mais distantes para votar, ou seja, aqueles que tendencionalmente têm a vida "por resolver" e que, por isso, não conseguiram ainda a estabilidade necessária para poder residir por um longo período de tempo numa mesma cidade, região ou país.

    E, tendencionalmente, este perfil de eleitor é compatível com o perfil de quem está mais descontente e que, por isso, menos probabilidades tem de votar no poder instalado. Logo, a chuva, se pudesse ser encomendada, tê-lo-ia certamente sido pelos mesmos que há 10 dias encomendaram um arco-irís que veio colocar Portugal à Frente de tudo e de todos.

    4 de Setembro e 2015: "Óh amigo, agora que só falta 1 mês para as eleições e isto está difícil de começar a ficar definido, o que aconteceria se tirássemos José Sócrates da prisão?". Ao que o amigo responde: "Experimentamos e sondamos. Depois consoante o impacto nas sondagens, logo se vê se faz falta tornar públicos os conteúdos da acusação".

    .

    Para não falar nos eleitores que durante os últimos 4 anos se viram forçados a mudar de vida de uma forma de tal maneira drástica, que neste momento se encontram impossibilitados de exercer a inutilidade do seu voto por motivos geográficos. Pois ainda que o seu voto seja inequivocamente inútil, a quantidade de eleitores a viver esta realidade representa aquilo a que me refiro como "voto em massa" que de inútil não tem absolutamente nada. E a tendência de voto desta dita "massa" é também inequívoca e vai contra o poder instalado que os colocou na referida situação.

    Bem hajam os que sofrem, sofreram e vão continuar a sofrer num país que se vendeu diplomáticamente a quem colocou tudo, mas tudo, à Frente de Portugal. Pois o sofrimento (também) é vida e por muito que nos custe admiti-lo, somos tanto (ou mais) viciados em sofrer quanto o somos em ser felizes. Que continuemos então a sofrer este sofrimento tão desejado, merecido e inútil.

    ✐☒ ๏̯͡๏

    PS: pode ser que me engane

    tommy
    The more you try to erase me, the more that I appear

  2. The Following 8 Users Say Thank You to Tommy For This Useful Post:

    BlackJack (10-11-2015),Brownie Boy (10-18-2015),Costa Rica (10-08-2015),Moxu666 (10-06-2015),Mr.Ganja (10-04-2015),ptfarmer420 (10-04-2015),Shariff (10-04-2015),Stewie weed (10-06-2015)

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